sexta-feira, 19 de março de 2010

A nova revolução industrial

Átomos são os novos BITS

Desenhe um produto inovador, faça os protótipos em casa e contrate uma empresa chinesa para fabricá-lo. A manufatura em pequena escala é a próxima revolução industrial
Empreendedores trabalham em uma estação da TechShop: democratização das fábricas
Empreendedores trabalham em uma estação da TechShop: democratização das fábricas

Por CHRIS ANDERSON* | 17.02.2010 | 16h51


A porta de uma fachada de loja do tamanho de uma secadora de roupas num parque industrial em Wareham, em Massachusetts, 1 hora ao sul de Boston, pode não parecer um portal para o futuro da produção industrial americana, mas é. Essa é a sede da Local Motors, a primeira companhia automobilística aberta a alcançar o estágio de produção. Dê um passo para dentro e o escritório surge como um exemplo revelador do poder das microfábricas.
Em junho, a Local Motors lançará oficialmente o Rally Fighter, um carro esportivo fora de estrada (mas bom para ruas) de 50 000 dólares. O design foi terceirizado para as multidões, assim como a escolha dos componentes, a maioria deles de prateleira. A montagem final será feita pelos consumidores em centros de montagem locais como parte de uma “experiência de construção”. Há vários outros projetos em andamento, e a companhia diz que pode desenvolver um novo veículo dos esboços ao lançamento em 18 meses, aproximadamente o tempo que Detroit leva para mudar um trinco de porta. Cada design é lançado sob uma licença Creative Commons para ser compartilhada. Os consumidores são encorajados a aprimorar os designs e a produzir os próprios componentes, que poderão vender a seus pares.
Um problema do negócio de kits de carros, porém, é que os veículos são tipicamente inspirados em carros esportivos e de corrida, e com isso as ações judiciais e as tarifas de licenciamento são um ônus constante. Isso dificulta o lucro e limita o crescimento do setor, apesar do boom do “faça você mesmo”. Jay Rogers, presidente da Local Motors, pensou num modo de contornar isso. Sua empresa optou por designs inteiramente originais. Eles não evocam carros clássicos, mas repensam o que um carro pode ser. A carroceria do Rally Fighter foi desenhada por uma comunidade de voluntários conectada pela internet. O carro tem um frescor visual incrível - um cruzamento de carro de corrida Baja com avião de caça Mustang P-51. Mas esse processo não foi nenhum politburo. Foi mais uma competição. O vencedor foi Sangho Kim, artista gráfico de 30 anos. Quando a Local Motors pediu para a comunidade apresentar ideias para veículos de próxima geração, os desenhos de Kim cativaram a turma. Não haveria um prêmio, mas a companhia deu 10 000 dólares a Kim. A Local Motors desenhou ou selecionou o chassi, o motor e a transmissão. Essa combinação - profissionais cuidam de elementos críticos para performance, segurança e fabricação, enquanto a comunidade desenha as partes que darão ao carro forma e estilo - permite que o crowdsourcing funcione mesmo para um produto cujo uso tem implicações de vida e morte.
A Local Motors pretende lançar entre 500 e 2 000 unidades de cada modelo. Trata-se de um veículo de nicho; ele não competirá com as grandes fabricantes, mas preencherá as lacunas para designs exclusivos. Rogers usa a analogia de um pote com bolas de gude, cada uma delas representando um veículo de uma grande empresa automobilística. Entre as bolas há espaços vazios que serão preenchidos por grãos de areia - e esses grãos são os carros da Local Motors.


ESTA É A HISTÓRIA DE DUAS décadas em uma sentença: se os últimos dez anos representaram a descoberta de modelos sociais pós-institucionais na web, os próximos dez serão de sua aplicação no mundo real. Este artigo é sobre os próximos dez anos.Uma mudança transformadora ocorre quando indústrias se democratizam, quando elas são arrancadas do domínio exclusivo de empresas, governos e outras instituições e entregues a pessoas comuns. A internet democratizou a comunicação, e por consequência a indústria editorial e a radiodifusão. O resultado foi um aumento maciço tanto de participação como de participantes em tudo o que é digital - a cauda longa de bits. Agora o mesmo está ocorrendo na fabricação - a cauda longa das coisas.
As ferramentas de produção fabril, da montagem de eletrônicos à impressão 3D, estão agora à disposição de indivíduos em quantidades tão pequenas que podem ser de até mesmo uma simples unidade. Qualquer pessoa com uma ideia e um pouco de expertise pode pôr em movimento linhas de montagem na China com nada mais que seu laptop. Alguns dias depois, um protótipo estará em sua porta e, se tudo estiver nos conformes, ela pode apertar mais alguns botões e colocar o produto em plena fabricação, produzindo centenas, milhares de unidades, ou mais. Ela pode até se tornar uma microfábrica virtual capaz de planejar e vender bens sem nenhuma infraestrutura, e até mesmo sem estoque; a produção pode ser montada e despachada por terceiros que atendem centenas desses clientes simultaneamente.
Hoje, microfábricas fazem de tudo, de carros a componentes de motos e móveis sob medida de qualquer design imaginável. O potencial coletivo de 1 milhão de funileiros de quintal está prestes a ser despejado nos mercados globais agora que as ideias vão diretamente para produção sem necessidade de financiamento ou ferramental. “Três caras com laptops” significavam uma empresa iniciante na internet. Agora isso também descreve uma empresa de hardware.
Já vimos esse quadro: é o que acontece pouco antes de indústrias monolíticas se fragmentarem em face de incontáveis pequenos ingressantes, da indústria fonográfica aos jornais. Baixem as barreiras de entrada, e a multidão inundará o ambiente. A maneira acadêmica de colocar isso é que as cadeias de suprimento globais se tornaram independentes de escalas. Elas são capazes de atender tanto o pequeno como o grande, o inventor de garagem e a Sony. Essa mudança é impulsionada por duas forças. A primeira é a explosão de ferramentas de prototipagem poderosas e baratas que facilitaram seu uso por não engenheiros. E a segunda é a crise econômica que desencadeou uma mudança extraordinária nas práticas de negócios das fábricas (principalmente) chinesas, que se tornaram cada vez mais flexíveis, voltadas para a web e abertas ao trabalho customizado - de menores volumes, mas com margens de lucro maiores.


O resultado permitiu que as inovações do mundo online se estendam ao mundo real. Como expressa Cory Doctorow em seu novo livro, Makers (“Fazedores”, numa tradução livre, ainda sem previsão de lançamento no Brasil): “Os dias de companhias com nomes como General Electric, General Mills e General Motors terminaram. O dinheiro sobre a mesa é como krill: 1 bilhão de pequenas oportunidades empresariais que podem ser descobertas e exploradas por pessoas espertas e criativas”.O RENASCIMENTO DA GARAGEM está repercutindo em fenômenos como a explosão de feiras de criadores e espaços locais, menores, onde os hackers podem se reunir para trabalhar. A colaboração entre pares, a ideia de abertura plena, emprestada do movimento do software livre, o crowdsourcing, o conteúdo gerado pelo usuário - todas essas tendências digitais começam a operar no mundo dos átomos também. A web era apenas a comprovação do conceito. Agora, a revolução atinge o mundo real.
Em suma, átomos são os novos bits. Tudo começa com as ferramentas. Numa cervejaria convertida em fábrica no Brooklyn, em Nova York, Bre Pettis e sua equipe de engenheiros de hardware estão fazendo a primeira impressora 3D que custa menos de 1 000 dólares. Em vez de esguichar tinta, a MakerBot constrói objetos espremendo um fio de 0,3 milímetro de espessura de plástico ABS derretido. Há cinco anos, não se conseguiria algo assim por menos de 125 000 dólares.
Durante uma visita no fim de novembro, 100 caixas contendo o nono lote de MakerBots estavam enfileiradas e prontas para sair pela porta (como consumidor, estou exultando, pois uma delas será minha). Quase 500 dessas impressoras 3D foram vendidas. Com cada uma, a comunidade contribui com novos usos e novas ferramentas para melhorálas ainda mais. É por isso que se diz que a MakerBot é um produto aberto, ou livre. Por exemplo, uma cabeça de protótipo oferece uma resolução de 0,2 milímetro. Outra cabeça pode conter uma ferramenta de corte giratória, transformando- a numa fresadora CNC. (CNC é a sigla para controle numérico por computador, o que simplesmente significa que as máquinas são acionadas por software.) E outra ainda pode imprimir com glacê para sobremesas.


A MakerBot produz peças de plástico com base em arquivos digitais. Deseja certa engrenagem agora? Baixe um desenho da internet e imprima-a por conta própria. Quer modificar um objeto que você já possui? Escaneie-o (um pesquisador da Universidade de Cambridge desenvolveu uma tecnologia que permitirá criar um arquivo 3D girando o objeto em frente a uma webcam), faça os ajustes com o software gratuito Sketch- Up, do Google, e carregue-o no aplicativo ReplicatorG. Em minutos, terá em mãos um novo objeto. Pode-se fazer qualquer coisa dessa maneira, de joias finas a chassis de carro, e dezenas de milhares de pessoas estão fazendo isso. Já vimos esse boom do movimento de criação faça você mesmo em plataformas simples, como camisetas e canecas de café, se expandir para artesanatos na Etsy, empresa que faturou 200 milhões de dólares no ano passado. Agora isso está chegando a plataformas mais complexas - como modelagem 3D e fabricação de plástico - e equipamentos eletrônicos de código aberto.A segunda parte dessa nova era industrial é a abertura da produção para indivíduos, permitindo-lhes levar seus protótipos para a fabricação em escalas maiores. Nos últimos anos, os fabricantes chineses evoluíram para atender com maior eficiência aos pedidos pequenos. Isso significa que empresas de uma só pessoa podem encomendar a produção de coisas numa fábrica que anteriormente só atenderia grandes companhias.
Duas tendências estão impulsionando isso. Primeiro, há a maturação e a crescente centralização na web das práticas empresariais na China. A geração web está entrando na administração, e as fábricas estão recebendo mais encomendas online, comunicando-se com clientes por e-mail e aceitando pagamento por cartão de crédito ou pelo sistema de transações financeiras PayPal, todas alternativas muito mais adequadas do que as tradicionais transferências bancárias, cartas de crédito e ordens de compra. Mais que isso, a crise econômica atual impeliu os chineses a buscar encomendas customizadas de maior margem para mitigar a espiral deflacionária das commodities.
Para uma visão do novo mundo de fábricas de acesso aberto na China, vejase Alibaba.com, maior agregadora de fabricantes, produtos e competências do país. Basta navegar no site para encontrar companhias que produzem mais ou menos o que se está procurando fazer. Pelo sistema de mensagem instantânea, você pode perguntar se eles fabricam o que deseja. O sistema da Alibaba traduz do chinês para o inglês, e vice-versa, em tempo real - cada pessoa pode se comunicar em sua língua nativa. Geralmente, as respostas chegam em minutos: “Não podemos produzir isso, podemos produzir isso e eis como pedi-lo; já produzimos algo parecido e custa tanto”.


O presidente da Alibaba, Jack Ma, chama isso de “C to B” - do cliente para a empresa. É uma nova avenida de comércio, totalmente apropriada para o microempresário do movimento faça você mesmo. “Se pudermos estimular as empresas a fazer mais transações transnacionais pequenas, os lucros podem ser maiores, pois os bens são únicos, não são commodities”, diz Ma. Desde sua fundação, em 1999, a Alibaba se tornou uma empresa de 12 bilhões de dólares, com 45 milhões de usuários registrados no mundo. Sua oferta pública inicial de 1,7 bilhão de dólares na Bolsa de Valores de Hong Kong, em 2007, foi a maior estreia de uma empresa de tecnologia desde o Google. Nos três últimos anos, diz Ma, mais de 1,1 milhão de empregos foram criados na China por companhias que fazem comércio eletrônico utilizando plataformas da Alibaba.PARA VER ESSE MODELO NO MUNDO real, basta visitar a TechShop, cadeia de espaços de trabalho faça você mesmo que oferece acesso a ferramentas de prototipagem de ponta por cerca de 100 dólares mensais. Numa tarde recente na unidade de Menlo Park, na Califórnia, Michael Pinneo, um bem-sucedido exexecutivo do ramo de diamantes sintéticos, está criando uma câmara de deposição a vapor que usa uma nova técnica para obter diamantes incolores. No canto está a base de um módulo de aterrissagem de foguete sendo desenvolvida por uma equipe que está competindo no Prêmio Google Lunar X. Em outra mesa, Stephan Weiss, vice-presidente da Interoptix, e um de seus colegas montam placas de circuitos usadas para gerir redes elétricas. Eles estão fazendo um lote de 50 unidades, que Weiss descreve como “pequeno demais para uma fábrica, mas grande demais para sua garagem”. Os dispositivos trazem o emblema da ABB, uma gigante de engenharia; os clientes da distribuidora de eletricidade talvez nunca venham a saber que eles foram feitos à mão num hackerspace.
Essa é uma incubadora para a era dos átomos. Quando o fundador da TechShop, Jim Newton, saiu à procura de alguém para geri-la, ele rapidamente escolheu Mark Hatch, ex-executivo da Kinko's. A analogia é oportuna: assim como a Kinko's democratizou a impressão e, no processo, criou uma cadeia nacional de birôs de serviços, a TechShop quer democratizar a fabricação. Ela agora possui duas unidades adicionais, e tem planos para mais 100. Um dos pontos que estão sendo considerados em São Francisco fica dentro das instalações do jornal San Francisco Chronicle, agora bastante reduzido. A ironia é deliciosa: as sementes da indústria de amanhã crescendo nas cinzas da de ontem.
Durante o almoço, Hatch reflete sobre o arco da história da manufatura. Com o advento da fábrica na era industrial, Karl Marx se afligia que um artesão já não podia comprar as ferramentas para exercer seu ofício. As economias de escala da produção industrial atropelaram o indivíduo. Apesar de os benefícios dessa industrialização se mostrarem em preços mais baixos e produtos melhores, o custo era a homogeneidade. Combinado com o grande varejo, o mercado ficou dominado pelos frutos da produção em massa: bens destinados a todos, com as resultantes escolhas limitadas e perda de diversidade que isso implica. Hoje, porém, essas ferramentas de produção estão ficando tão baratas que estão novamente ao alcance de muitos indivíduos. Máquinas fresas de ponta, que antes custavam 150 000 dólares, agora estão perto de 4 000 dólares, graças a cópias chinesas. Qualquer garagem é uma fábrica high tech em potencial. Marx ficaria satisfeito.
Para um exemplo final disso, passemos aos subúrbios de Seattle para encontrar Will Chapman, da BrickArms. De um pequeno espaço industrial, a BrickArms preenche lacunas na linha de produção da Lego, chegando a terrenos que a gigante dinamarquesa de brinquedos hesita trilhar: armamentos pesados, de fuzis AK-47 a granadas de fragmentação, em escala Lego, que parecem diretamente saídos do game Halo 3. As peças são mais complexas que o componente médio da Lego, mas são fabricadas com a mesma qualidade e vendidas online a milhares de fãs da Lego, garotos e adultos, que querem criar cenas mais sofisticadas que as permitidas pelos kitspadrão. A Lego opera numa escala industrial, num campus altamente protegido em Billund, na Dinamarca. Engenheiros modelam protótipos que são então fabricados em oficinas de usinagem específicas. Depois de aprovados, eles são fabricados em grandes unidades de moldagem por injeção. Partes são criadas para kits, e esses kits precisam ser testados como brinquedos, precificados para o varejo de massa e despachados e estocados meses antes de sua venda na Target ou no Walmart. As únicas peças que saem desse processo são as que vão ser vendidas aos milhões.

Chapman trabalha numa escala diferente. Ele desenha peças usando o software 3D SolidWorks, que pode criar a imagem que servirá de base para os moldes. Ele envia o arquivo para sua máquina de desbastar CNC de mesa, uma fresadora que custa menos de 1 000 dólares, que esmerilha as metades do molde de blocos de alumínio. Depois coloca as peças em sua máquina manual de moldagem por injeção, derrete algumas contas de resina e as injeta. Alguns minutos depois, Chapman tem um protótipo para mostrar aos fãs. Se eles gostarem, ele contrata um fabricante de ferramentas local para reproduzir o molde em aço e uma companhia de moldagem por injeção com sede nos Estados Unidos para fazer lotes de alguns milhares. Por que não fazer as peças na China? Ele poderia, diz, mas o resultado seria “moldes que demoram mais para produzir, com tempos de comunicação lentos e plástico abaixo do padrão” (leia-se: barato). Ademais, diz Chapman, “se seus moldes estão na China, quem sabe o que acontecerá com eles quando você não os está usando? Eles poderiam operar em segredo produzindo peças para vender em mercados secundários que você nem sequer saberia que existem”.
OS TRÊS FILHOS DE CHAPMAN embalam as peças que ele vende diretamente. Hoje, a BrickArms possui também revendedores na Grã-Bretanha, na Austrália, na Suécia, no Canadá e na Alemanha. O negócio ficou tão grande que em 2008 ele abandonou a carreira de 17 anos como engenheiro de software e agora sustenta confortavelmente a família exclusivamente com as vendas de armas Lego. “Eu ganho mais com um dia morno na BrickArms do que jamais ganhei como engenheiro de software. A vida é boa.”
Em meados dos anos 30, Ronald Coase, então recém-formado na London School of Economics, ruminava sobre o que, para muitos, poderiam parecer perguntas tolas: por que existem empresas? Por que depositamos nossa lealdade em uma instituição e nos reunimos no mesmo edifício para fazer coisas? Sua resposta: para reduzir “custos de transação”. Quando pessoas compartilham um propósito e têm responsabilidades e modos de comunicação estabelecidos, é fácil fazer as coisas acontecerem. Basta se virar para a pessoa no cubículo ao lado e pedir que ela faça seu serviço.
Há muitos anos, porém, Bill Joy, um dos cofundadores da Sun Microsystems, revelou o furo no modelo de Coase. “Seja você quem for, a maioria das pessoas mais inteligentes trabalha para outros”, ele observou com justeza. Claro, isso sempre foi verdade, mas antes pouco importava se a pessoa estivesse em Detroit e alguém melhor estivesse em Dacar; uma estava aqui, e a outra, lá. E pronto. O ponto de Joy era que isso estava mudando. Com a internet, não é preciso recorrer ao cubículo ao lado. Pode-se aproveitar a melhor pessoa distante, mesmo que ela esteja em Dacar.
A lei de Joy virou a lei de Coase de cabeça para baixo. Agora, trabalhar dentro de uma empresa frequentemente impõe custos de transação mais altos do que tocar um projeto online. Por que se virar para a pessoa no cubículo ao lado quando é mais fácil recorrer a um mercado global de talentos? Companhias são cheias de burocracia, procedimentos e processos de aprovação, uma estrutura planejada para defender a integridade da organização. Comunidades se formam em torno de necessidades e interesses compartilhados e não têm processos além dos necessários. A comunidade existe para o projeto, não para sustentar a companhia em que o projeto reside.

Daí o novo modelo de organização industrial. Ele é construído em torno de peças frouxamente rejuntadas. As companhias são pequenas, virtuais e informais. A maioria dos participantes não é empregada formalmente. Eles se formam e se reformam ao sabor das circunstâncias, impelidos mais por competência e necessidade do que por filiação e obrigação. Pouco importa para quem a melhor pessoa trabalha; se o projeto for interessante, a melhor pessoa o encontrará.
Mas a diferença entre esse tipo de pequena empresa e lavanderias automáticas e lojas de esquina, que constituem a maioria das microempresas no país, é que o negócio é global e high tech. Dois terços de nossas vendas vêm de fora dos Estados Unidos, e os produtos competem na ponta inferior com empresas de equipamentos de defesa, como Lockheed e Boeing. Embora não empreguem muitas pessoas nem ganhem muito dinheiro, o modelo básico é baixar o custo da tecnologia num fator de 10 (sobretudo não cobrando por propriedade intelectual). O efeito é sentido principalmente pelos consumidores. Baixar os custos é um modo de democratizar a tecnologia também.
Embora esteja encolhendo, a economia industrial americana ainda é a maior do mundo. Mas o crescente setor produtivo da China deverá assumir a primeira posição em 2015, segundo a IHS Global Insight, empresa de projeções econômicas. Nem toda a indústria americana está encolhendo, porém - só a parte grande. Uma pesquisa do Pease Group com pequenos fabricantes (menos de 25 milhões de dólares em vendas anuais) mostra que a maioria espera crescer neste ano, muitos deles em dois dígitos. Aliás, analistas calculam que quase todos os novos empregos industriais nos Estados Unidos virão de pequenas empresas.
Bem-vindos à próxima revolução industrial.

*Chris Anderson é editor-chefe da revista Wired e autor dos livros A Cauda Longa e Grátis - o Futuro dos Preços


Como construir seu sonho

Na era da democratização da indústria, toda garagem pode ser uma microfábrica, e todo cidadão, um microempreendedor. Como transformar uma grande ideia num grande produto

1) Invenção

Pare de reclamar da falta de produtos legais — crie o seu. Dica dos profi ssionais: verifi que se a ideia ainda não foi patenteada

2) Desenho

Use ferramentas gratuitas, como o Blender ou o Google SketchUp, para criar um modelo digital em 3D. Ou então baixe um design da web e faça suas adaptações

3) Protótipo

Você não precisa ser Geppetto para criar um protótipo. Pequenas impressoras 3D, como a MakerBot, custam menos de 1 000 dólares. Envie o arquivo e veja a máquina transformar sua visão num modelo de plástico

4) Fabricação

A produção limitada pode acontecer na garagem. Se quiser crescer, seja global e terceirize. As fábricas chinesas estão à espera. Sites como o Alibaba.com podem ajudá-lo a encontrar o parceiro ideal

5) Venda

Os clientes podem encontrá-lo diretamente, pela web ou por intermédio de vendedores especializados. Você pode criar uma loja online — e preparar-se para se tornar um ícone da revolução industrial do “faça você mesmo”

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